Por Isabela Rossi e Julia Cadima

WABI SABI na estética japonesa

07 de junho de 2023

Wabi sabi é uma estética japonesa que valoriza a beleza das imperfeições e da simplicidade. É
uma visão de mundo que celebra a transitoriedade e a busca pelo equilíbrio entre o caos e a
ordem. A estética wabi sabi se baseia em três princípios básicos: simplicidade, modéstia e
naturalidade. Ela busca a beleza nos detalhes mínimos, sejam eles de origem natural ou feitos
pelo homem. Valoriza-se a ideia de que todas as coisas têm imperfeições, que podem ser
vistas como símbolos de história, de experiências e de vida. É interessante notar que, na
estética wabi sabi, a perfeição é muitas vezes vista como um obstáculo para a beleza. Isso
ocorre porque, na cultura japonesa, a busca pela perfeição tende a levar ao artificialismo, ao
excesso de normatização e à monotonia. Por isso, wabi sabi valoriza a imperfeição, as falhas,
as irregularidades – pois elas fornecem a singularidade e a individualidade no objeto ou obra
de arte. Outro princípio importante da estética wabi sabi é a simplicidade. Valoriza-se a ideia
de que as coisas simples são as mais bonitas, e que elas trazem harmonia à vida cotidiana. Esta
ideia está presente em diferentes aspectos da vida japonesa, como na arquitetura, no design
de objetos, nos jardins e nas artes visuais. A simplicidade é vista como uma forma de encontrar
a paz interior e a tranquilidade no meio do caos. Por fim, o terceiro princípio da wabi sabi é a
naturalidade. A natureza é considerada uma fonte de inspiração e de beleza, e muitos
elementos naturais são incorporados na arte japonesa. Essa naturalidade se reflete não apenas
nas formas como as obras de arte são feitas, mas também nas formas como elas são
apreciadas: o gesto de se sentar para apreciar uma xícara de chá, por exemplo, é um exemplo
de como a contemplação da beleza natural é valorizada e cultivada. Em resumo, a estética
wabi sabi é um exemplo da capacidade do povo japonês para encontrar a beleza na
simplicidade, na naturalidade e na imperfeição. Seus princípios inspiram não apenas a arte,
mas também a vida cotidiana, e nos ensinam uma lição essencial: que, às vezes, a beleza é
encontrada nas coisas mais simples e menos perfeitas do mundo.

simplicidade, modéstia e naturalidade

Materias na forma mais neutra e simples

Formas orgânicas que remetem a natureza

O minimalismo e a estética wabi sabi estão profundamente enraizados na cultura japonesa, e
têm sido influências importantes na arte, na arquitetura, no design e na vida cotidiana
japonesa. O minimalismo, que tem suas raízes no wabi sabi, é uma estética que valoriza a
simplicidade, a funcionalidade e a ausência de excessos. Ele se concentra em elementos
essenciais, eliminando tudo que é desnecessário e evitando o ornamento excessivo. Na cultura
japonesa, isso é visto na arquitetura minimalista, nos jardins zen e nos objetos cotidianos,
como utensílios de cozinha, roupas e móveis. A estética wabi sabi, por outro lado, é uma
filosofia de vida que valoriza as imperfeições, a simplicidade e a naturalidade. Ele enfatiza os
elementares da vida, a satisfação com pequenas Ncoisas e uma estética não superficial. Esta
abordagem é manifestada em todo o aspecto da cultura japonesa, desde a cerâmica
tradicional até as artes marciais. Juntas, essas duas estéticas influenciam profundamente a
cultura japonesa. A arquitetura, o design de interiores e o mobiliário japoneses são
frequentemente caracterizados por linhas limpas, simplicidade e baixa ornamentação. Os
objetos que os japoneses usam no dia a dia, como utensílios de cozinha, são frequentemente
projetados para serem práticos e funcionais, sem sacrificar a estética. E a atitude japonesa em
relação à natureza é influenciada pelo wabi sabi, valorizando a simplicidade e a beleza
encontradas na natureza, mesmo nas imperfeições. Em suma, o minimalismo e a estética wabi
sabi são dois princípios fundamentais do design e da cultura japonesa. Eles influenciaram a
arquitetura, design de interiores, mobiliário, objetos do dia a dia e até mesmo a maneira como
os japoneses pensam e vivem suas vidas.

Com decorações minimalistas, com o essencial para ter uma vida boa e tranquila.

Greenwash: Uma Análise Crítica da Sustentabilidade e o Projeto Bosco Verticale

Por Antônio do Valle, Sophia Bock e Thais Nishikawa

Este artigo apresenta uma análise crítica sobre o conceito de “greenwash” e sua relação com a sustentabilidade. O estudo tem como foco o projeto Bosco Verticale, localizado na Itália, considerado um marco na arquitetura contemporânea sustentável. O objetivo é avaliar se o Bosco Verticale é uma genuína expressão da sustentabilidade ou se está envolvido em práticas de greenwash. Para isso, examinaremos os princípios de sustentabilidade subjacentes ao projeto e discutiremos sua eficácia e impacto real no contexto da arquitetura verde.

Nos últimos anos, a preocupação com a sustentabilidade tem se tornado cada vez mais presente na arquitetura contemporânea. O movimento de construções sustentáveis busca reduzir o impacto ambiental, promovendo o uso eficiente dos recursos naturais e a minimização dos resíduos. No entanto, em meio a essa tendência, surge o termo “greenwash”, que se refere a práticas de marketing e publicidade que promovem uma imagem de sustentabilidade enganosa, sem efetivamente abordar os desafios ambientais de forma significativa.

O Projeto Bosco Verticale

Um exemplo emblemático da arquitetura contemporânea sustentável é o Bosco Verticale, localizado em Milão, na Itália. Desenvolvido pelos arquitetos Stefano Boeri, Gianandrea Barreca e Giovanni La Varra, o Bosco Verticale é um complexo residencial que apresenta uma abundante vegetação em suas fachadas. A proposta é criar um “bosque vertical” que proporcione benefícios ambientais, como a redução da poluição do ar, a absorção de CO2 e a promoção da biodiversidade urbana.

O projeto consiste em duas torres residenciais, uma com 80 metros de altura e a outra com 112 metros. O que torna esse projeto único e impactante é a presença de árvores, arbustos e plantas em suas varandas e terraços. As plantas foram cuidadosamente selecionadas para criar uma mistura diversificada de espécies, criando um microcosmo verde vertical.

Foi projetado também com uma série de tecnologias sustentáveis. As varandas e terraços possuem sistemas de irrigação automatizados, garantindo a manutenção adequada das plantas sem desperdício de água. Além disso, o projeto incorpora painéis solares nas fachadas e turbinas eólicas na cobertura, aproveitando fontes renováveis de energia.

Imagem 1: A duas torres que mudaram o horizonte de Milão: o Bosco Verticale
https://conteudo.imguol.com.br/blogsbol/2/2020/12/col12_bosco-verticale-a0941311763418c605b94e7d708c3752-1024×683.jpg
Imagem 2: Projeto Bosco Verticale, Itália
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Sustentabilidade do Bosco Verticale

O Bosco Verticale é amplamente considerado um exemplo positivo de arquitetura sustentável. Sua vegetação exuberante e o uso de tecnologias eficientes são apontados como elementos que contribuem para a redução do consumo de energia e para a melhoria da qualidade do ar no entorno. Além disso, o projeto busca promover uma convivência mais harmoniosa entre o ambiente urbano e a natureza, proporcionando espaços verdes para os moradores.

Imagem 3: Interior do Edifício Bosco Verticale
https://www.nachhaltigleben.ch/images/Bosco_Verticale_Mailand_595.jpg

No entanto, é importante analisar criticamente a sustentabilidade do Bosco Verticale em relação ao conceito de greenwash. O greenwash pode ocorrer quando um projeto sustentável é superestimado em suas contribuições para o meio ambiente, apresentando uma imagem exageradamente positiva e ocultando eventuais impactos negativos.

Relação com o Greenwash

Embora o Bosco Verticale seja amplamente divulgado como um projeto sustentável, é necessário avaliar a efetividade de suas propostas. Alguns críticos argumentam que o projeto concentra seus esforços na aparência visual verde, sem abordar questões mais amplas de sustentabilidade. A preocupação é que o Bosco Verticale possa estar se utilizando do greenwash para promover uma imagem de sustentabilidade sem uma análise aprofundada de seu desempenho ambiental real.

No entanto, é preciso considerar que o Bosco Verticale também possui méritos significativos. A vegetação nas fachadas contribui para o aumento da biodiversidade urbana e para a redução do calor urbano. Além disso, a utilização de tecnologias de eficiência energética e a promoção de espaços verdes para os moradores podem ser consideradas ações positivas em direção à sustentabilidade.

Diante da análise crítica do conceito de greenwash e sua relação com o projeto Bosco Verticale, é importante reconhecer que o mesmo apresenta aspectos sustentáveis, como a melhoria da qualidade do ar e a promoção da biodiversidade urbana. No entanto, é fundamental evitar a superficialidade na avaliação dos impactos e benefícios ambientais. O greenwash pode ser um risco real quando se trata de projetos sustentáveis, e é responsabilidade de arquitetos, pesquisadores e da sociedade em geral avaliar de forma aprofundada e transparente os reais resultados alcançados por essas iniciativas. Somente assim podemos garantir uma transição verdadeiramente sustentável na arquitetura contemporânea e em outros setores.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: qual é o sentido do trabalho em uma era em que, talvez, não nos resta trabalho a ser feito?

Por Giovanna Luz Moreira e Luigi Ienne

07 de junho de 2023

Arquiteturas Contemporâneas

O conceito de trabalho tem desempenhado um papel fundamental na organização da sociedade humana ao longo da história. Desde os tempos mais remotos, as pessoas têm se envolvido em atividades laborais para garantir sua sobrevivência, atender às suas necessidades básicas e, em última instância, construir o progresso coletivo. O trabalho desempenha múltiplas funções, desde a produção de bens e serviços até o desenvolvimento pessoal e a contribuição para o bem-estar social. A origem da palavra “trabalho” remonta ao termo latino “tripalium”, que era uma ferramenta de tortura. Inicialmente, o trabalho era associado à escravidão e a um meio de subjugação das pessoas. No entanto, ao longo do tempo, ocorreu uma transformação significativa, e o trabalho passou a ser valorizado e elogiado na sociedade atual. Ser chamado de “trabalhador” é considerado um elogio, e o trabalho é visto como algo que dignifica o homem.

Em sociedades onde a escravidão não era mais possível ou desejada, o surgimento do trabalho como um meio de produção de bens foi crucial. À medida que as noções de liberdade individual e direitos humanos ganhavam espaço, a escravidão gradualmente se tornava incompatível com os valores emergentes. Nesse contexto, o trabalho assumiu um novo significado, tornando-se uma forma de garantir a subsistência e a autonomia dos indivíduos, além de possibilitar a criação de riqueza e o desenvolvimento econômico.

A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio

A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio (1509-1511)

Atualmente, a função do trabalho continua a evoluir, impulsionada por avanços tecnológicos e sociais. O trabalho desempenha um papel fundamental na economia, fornecendo empregos, estimulando o crescimento econômico e permitindo a criação de valor. No entanto, a crescente adoção da inteligência artificial (IA) traz consigo um conjunto único de desafios e oportunidades.

A IA tem o potencial de substituir uma variedade de tarefas e ocupações, desde trabalhos repetitivos até funções mais complexas e especializadas. Automação, aprendizado de máquina e robótica estão se tornando cada vez mais sofisticados, permitindo que máquinas desempenhem tarefas com eficiência, precisão e velocidade superiores às habilidades humanas. Essa perspectiva levanta a possibilidade de um futuro com desemprego em massa, onde muitos empregos tradicionais podem ser substituídos. A rápida evolução da inteligência artificial (IA) trouxe consigo uma série de softwares inovadores que prometem revolucionar diversos setores. Essas tecnologias avançadas têm o potencial de transformar radicalmente a maneira como trabalhamos, nos comunicamos e interagimos com o mundo ao nosso redor. No entanto, é fundamental considerar tanto os aspectos positivos quanto os desafios apresentados por esses novos softwares de IA.

Entre os principais benefícios dos softwares de IA estão:

  1. GPT-3.5: Desenvolvido pela OpenAI, o GPT-3.5 é um modelo de linguagem avançado que permite interações humanas mais naturais e sofisticadas. Ele pode ser aplicado em chatbots, assistentes virtuais e na geração automática de conteúdo, facilitando tarefas e melhorando a eficiência.
  2. DeepMind AlphaGo: Esse software de IA foi projetado para jogar o jogo complexo de tabuleiro Go. O AlphaGo demonstrou habilidades excepcionais, inclusive derrotando alguns dos melhores jogadores humanos do mundo. Além disso, as técnicas utilizadas no AlphaGo têm aplicações em outros campos, como otimização e tomada de decisões.
  3. IBM Watson: O Watson é um sistema de IA que utiliza o processamento de linguagem natural e a aprendizagem de máquina para analisar grandes volumes de dados. Ele é aplicado em áreas como medicina, finanças e atendimento ao cliente, permitindo uma análise avançada e insights valiosos.

Apesar dos benefícios, também é importante considerar os desafios e as preocupações relacionadas aos softwares de IA:

  1. Viés algorítmico: Os softwares de IA são alimentados por grandes quantidades de dados, e esses dados podem conter viés humano. Isso pode levar a resultados discriminatórios ou injustos, afetando negativamente certos grupos sociais. É fundamental abordar esse problema e garantir que os algoritmos sejam imparciais e equitativos.
  2. Privacidade e segurança dos dados: A utilização de softwares de IA requer o compartilhamento de dados pessoais e sensíveis. Isso levanta preocupações sobre privacidade e segurança, especialmente quando se trata de informações confidenciais de indivíduos. É necessário implementar medidas robustas de proteção de dados para garantir a confidencialidade e a integridade das informações.
  3. Impacto no mercado de trabalho: A automação impulsionada pela IA pode levar à substituição de certas ocupações e causar desemprego em alguns setores. Isso requer uma adaptação dos trabalhadores e a criação de programas de requalificação para garantir uma transição suave e inclusiva.

O Futuro do Trabalho na Era da Inteligência Artificial: Desafios e Oportunidades

A ascensão da inteligência artificial e sua capacidade de automatizar uma ampla gama de tarefas levanta questionamentos sobre o sentido e o futuro do trabalho em uma era em que as atividades humanas podem ser substituídas por máquinas. Essa reflexão nos remete a examinar as mudanças sociais que ocorreram durante a Revolução Industrial, quando máquinas e tecnologias transformaram radicalmente o cenário laboral.

Funcionários da Midland Lace Company, localizada na St Ann’s Well Road, Nottingham, Nottinghamshire, 1906. Durante a Revolução Industrial, a indústria têxtil de Nottingham, especialmente a fabricação de rendas, prosperou. (Foto de NEMPR Picture the Past/Heritage Images/Getty Images)

A substituição de trabalho manual por máquinas levou ao deslocamento de muitos trabalhadores, que se viram sem emprego e enfrentaram dificuldades para se adaptar a essa nova realidade. Houve um período de transição, com desigualdades crescentes e condições de trabalho desfavoráveis, antes que novas oportunidades e empregos surgissem.

No contexto atual, a implementação da inteligência artificial tem o potencial de gerar um impacto similar na sociedade. À medida que a IA automatiza tarefas rotineiras e repetitivas, é possível que algumas profissões e ocupações sejam substituídas por sistemas automatizados. Isso pode resultar em desemprego e deslocamento de trabalhadores em determinados setores. No entanto, assim como ocorreu durante a Revolução Industrial, é importante considerar que a tecnologia também pode criar novas oportunidades de trabalho. A IA pode gerar demanda por habilidades especializadas, como programação, análise de dados e desenvolvimento de algoritmos. Além disso, o avanço tecnológico pode impulsionar a criação de novas indústrias e setores, abrindo caminho para empregos que ainda não existem.

A transição para essa nova era do trabalho não estará isenta de desafios. Será fundamental repensar a educação e o desenvolvimento de habilidades para preparar os trabalhadores para as demandas de um mercado em constante evolução. É necessário investir em programas de capacitação e requalificação para que as pessoas possam se adaptar às mudanças tecnológicas e encontrar novas oportunidades de emprego.

Em termos do sentido do trabalho, é provável que ocorram transformações significativas. A IA pode liberar os seres humanos de tarefas tediosas e repetitivas, permitindo que eles se concentrem em atividades mais criativas, estratégicas e que exijam habilidades sociais. A ênfase poderá se deslocar para tarefas que envolvam empatia, tomada de decisões complexas, solução de problemas e interação humana. Essa mudança no sentido do trabalho também requer uma reflexão mais ampla sobre a organização da sociedade. Pode ser necessário repensar as estruturas econômicas e considerar medidas como a redução da jornada de trabalho, a implementação de políticas de renda básica universal ou a criação de novos modelos de trabalho que valorizem mais o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

À medida que avançamos em direção a um futuro cada vez mais impulsionado pela IA, é fundamental equilibrar os benefícios com a consideração dos desafios e preocupações associados. A ética e a responsabilidade devem estar no cerne do desenvolvimento e implementação desses softwares, garantindo que eles sejam utilizados para promover o bem comum e melhorar a vida das pessoas. O caminho a seguir envolve uma colaboração estreita entre governos, empresas, especialistas em IA e a sociedade em geral. Somente por meio de um esforço conjunto podemos aproveitar plenamente os benefícios da IA e mitigar seus impactos negativos, garantindo que ela seja uma força positiva e capacitadora para o progresso humano.

iArquitetura

A IA (Inteligência Artificial) e a arquitetura são dois campos que, quando combinados, apresentam um potencial significativo para transformar a maneira como projetamos e interagimos com os espaços. Com o desenvolvimento de softwares inovadores e a aplicação de IA nessa área, surgem reflexões importantes sobre os prós e contras dessa convergência.

Um dos pontos positivos da IA na arquitetura é a possibilidade de otimizar e agilizar o processo de projeto. Softwares como o Generative Design permitem que arquitetos explorem uma ampla gama de soluções de design de forma rápida e eficiente. Isso resulta em projetos mais eficientes e estruturas mais eficazes, melhorando a qualidade do trabalho realizado. Além disso, a IA possibilita a realização de análises avançadas. Com o uso de softwares como o BIM, é possível realizar simulações energéticas, análises de desempenho e até mesmo a detecção de conflitos. Essas análises permitem que os arquitetos tomem decisões informadas, considerando aspectos críticos como eficiência energética, ergonomia e fluxo de pessoas.

Outro benefício da IA na arquitetura é a personalização e a melhoria da experiência do usuário. Através da coleta e análise de dados, é possível compreender as preferências e necessidades individuais dos usuários dos espaços arquitetônicos. Isso possibilita a criação de projetos mais personalizados, que atendam às demandas específicas de cada cliente, resultando em ambientes mais satisfatórios e funcionais.

No entanto, é importante ponderar sobre os possíveis contras da IA na arquitetura. Um desafio significativo é o viés algorítmico. Assim como em outras aplicações de IA, os softwares utilizados na arquitetura podem reproduzir preconceitos e discriminações se os dados de treinamento não forem cuidadosamente selecionados. Isso pode resultar em soluções arquitetônicas que não consideram a diversidade e a inclusão, perpetuando desigualdades em espaços construídos. Além disso, a dependência excessiva da IA pode levar à perda da criatividade humana e à falta de originalidade nos projetos. É essencial que os arquitetos encontrem um equilíbrio entre o uso da tecnologia e sua própria intuição e expertise, garantindo que a IA seja uma ferramenta complementar, e não substituta, no processo de projeto.

Em relação aos softwares e sites relevantes nessa área, podemos destacar o Generative Design, o BIM e as tecnologias de Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR). Essas ferramentas oferecem recursos avançados para os arquitetos explorarem, otimizarem e visualizarem seus projetos. Em suma, a IA na arquitetura apresenta uma série de vantagens, como otimização do processo de projeto, análises avançadas e personalização. No entanto, é importante estar atento aos desafios, como o viés algorítmico e a perda da criatividade humana. O uso responsável da IA, aliado ao conhecimento e expertise dos arquitetos, pode proporcionar avanços significativos nessa área, resultando em espaços mais eficientes, funcionais e adaptados às necessidades dos usuários.

IA na sociedade

A implementação da inteligência artificial na atualidade tem o potencial de causar mudanças significativas em diversos aspectos da sociedade. Essas transformações podem trazer tanto benefícios quanto desafios sociológicos que devem ser considerados. Um dos principais desafios é o impacto no mercado de trabalho. A automação impulsionada pela IA pode levar à substituição de certas ocupações por sistemas automatizados, o que pode resultar em desemprego e desigualdade econômica. É essencial pensar em estratégias de requalificação e reconversão profissional para lidar com essa mudança, garantindo que as pessoas possam se adaptar às novas demandas do mercado. A implementação da IA pode aprofundar as divisões sociais existentes. Aqueles que têm acesso a tecnologias avançadas e habilidades necessárias para trabalhar com elas serão beneficiados, enquanto outros podem ser deixados para trás. Isso pode ampliar a chamada “lacuna digital” e acentuar desigualdades socioeconômicas já existentes.

A IA pode afetar a interação social e as relações humanas. À medida que a tecnologia se torna mais presente em nossas vidas cotidianas, podemos observar mudanças nos padrões de comunicação e interação entre as pessoas. Por exemplo, a proliferação de assistentes virtuais e chatbots pode alterar a forma como nos comunicamos e nos relacionamos uns com os outros, levantando questões sobre a autenticidade e a conexão humana.

Outro desafio sociológico importante é a compreensão e mitigação de possíveis viéses e discriminações algorítmicas. Os sistemas de IA são treinados com base em conjuntos de dados existentes, que podem conter preconceitos e discriminações incorporados. Se esses viéses não forem identificados e tratados adequadamente, os sistemas de IA podem perpetuar injustiças sociais e amplificar desigualdades existentes.

Diante desses desafios, é fundamental uma abordagem responsável e ética na implementação da IA. É necessário envolver pesquisadores, legisladores, profissionais e a sociedade como um todo para garantir que a IA seja utilizada de forma benéfica, equitativa e em consonância com os valores sociais.

De modo geral, a implementação da inteligência artificial traz consigo mudanças e desafios sociológicos significativos. É fundamental considerar os impactos no mercado de trabalho, acentuação de desigualdades, questões de privacidade e ética, alterações nas interações sociais e a necessidade de lidar com viéses algorítmicos. A abordagem cuidadosa e responsável da IA pode ajudar a maximizar seus benefícios e minimizar seus impactos negativos na sociedade.

Essa mudança traz consigo uma incerteza significativa sobre o futuro do trabalho. Por um lado, existe o temor de uma crise econômica e social causada pelo desemprego em massa. A requalificação e a adaptação dos trabalhadores a novos setores e habilidades podem se tornar desafios significativos, exigindo uma resposta coordenada da sociedade para garantir uma transição justa e inclusiva. Por outro lado, há também uma visão otimista sobre o futuro do trabalho e da sociedade. Alguns acreditam que o progresso tecnológico e a automação podem liberar os seres humanos das tarefas mundanas e repetitivas, permitindo que eles se concentrem em atividades mais criativas, intelectuais e gratificantes. Nesse cenário, a riqueza gerada pelas máquinas poderia ser distribuída de maneira mais equitativa, proporcionando um maior bem-estar social e uma sociedade mais justa.

No entanto, é importante ressaltar que não há uma resposta definitiva sobre como a inteligência artificial irá moldar o futuro do trabalho. A incerteza é uma constante, e é necessário um diálogo amplo e inclusivo para explorar os impactos da IA no trabalho humano, as implicações éticas e sociais associadas e como moldar o futuro de forma a garantir a sustentabilidade, a igualdade e o bem-estar da humanidade.

AS JANELAS E A CIDADE UTÓPICA

OLHOS DA CIDADE

Podemos dizer que, ao longo dos anos, a arquitetura se alterou, e ainda se altera, considerando as relações humanas, as quais são afetadas pelos avanços tecnológicos. Neste artigo, será analisado o desenvolvimento dessa dinâmica através da ótica de como esses elementos se relacionam e se modificam. 

Na sua origem latina, a palavra janela vem de ja-nuellam, diminutivo de janua, que significa “pequena porta”.

A porta representa as ações de abrir e fechar, o trânsito de um lado ao outro, denota fluidez e movimento, enquanto a janela está mais ligada à ideia de ver, contemplar, presumindo o olhar fixo e o corpo parado.

Na arquitetura, a janela assume o papel da moldura à semelhança do quadro na pintura, enquadrando a paisagem. Nesse sentido, as janelas se apresentam como um meio para a construção de uma noção de paisagem através da relação que propõem entre espaço exterior e interior. Ao enquadrarem uma cena externa trazendo-a para o interior do edifício, as janelas permitem que o observador atribua significado ao espaço externo, percebendo-o como paisagem. 

Segundo Silva, em ‘A janela: relações e transformações no contexto da história da arquitectura.’, contar a história da janela é contar a história da arquitetura, e além disso, propomos discorrer sobre como a história da janela também pode contar a história das relações humanas com a paisagem.

Nos tempos mais remotos da história, o homem abriu janelas pela primeira vez nas suas moradias para captar a luz natural. Foi só na Renascença, com o surgimento da perspectiva, que a janela foi inserida de forma consciente na linguagem da arquitetura, passando a ser entendida como o “olho” da edificação. Neste período a arquitetura descobriu na janela um mecanismo que lhe permite transcender o espaço interno, do qual exercia domínio absoluto, e dirigir o seu olhar para fora, para o espaço exterior. 

Além disso, ainda no período da Idade Média, a vida urbana nas cidades europeias era praticamente inexistente, portanto, as edificações eram voltadas para seus pátios internos. Somente ao fim daquele período, o gradual desenvolvimento das cidades permitiu uma maior interação social, despertando o interesse na vida pública e atraindo os olhares curiosos para o que se passava na rua. A janela, então, deixa de ser apenas um furo na parede e assume também a função de comunicação visual entre interior e exterior. 

Com a Revolução Industrial e com a crescente utilização do vidro e do ferro houve grandes inovações na forma de abertura da janela. E assim, no século XX,  Le Corbusier expõe “os cinco pontos da nova arquitetura”, que revoluciona a linguagem arquitetônica, ao propor a janela em fita. Le Corbusier recomenda a apreciação da paisagem, através de seu enquadramento: “O olho vê horizontalmente”. 

Dessa forma, a arquitetura tem impulsionado de maneira expressiva a nossa relação com paisagem por meio da janela. Entretanto, esse pequeno elemento tem contribuído de maneira subjetiva para o desenvolvimento das nossas relações também. 

A janela, em seu significado mais singelo, denota abertura, relação sensorial (visão, audição, tato e olfato) e entrada de luz. No entanto, com o passar dos anos, podemos refletir sobre os diversos significados que ela teve.

Da janela arquitetônica, podemos ir direto para a janela expressa em pinturas enquadradas, que apresentavam de maneira estática, aquilo que os olhos não poderiam ver no momento. Levando paisagens distantes, a todos os lugares, por vezes tão realistas quanto a realidade. A paisagem entendida por meio da janela (limitada/emoldurada)  apresenta uma nova relação entre os seres humanos e a paisagem, uma relação estática, muitas vezes ideal, bela e agradável.

A partir do século XX, com o desenvolvimento da tecnologia, surge a televisão, como veículo de som e imagem que tão rapidamente se transformou em um instrumento de modificação da conduta humana, influenciando os hábitos, costumes e cultura. Por meio da televisão, as pessoas tiveram acesso tanto a novas paisagens visuais quanto a novas realidades, abrindo multi janelas (canais) para multi conteúdos. A exemplo disso, podemos analisar o projeto Milano Due.

Milano Due, foi um bairro residencial, localizado no município de Segrate, na cidade metropolitana de Milão. Foi construída entre 1970 e 1979, pelos Arquitetos Giancarlo Ragazzi, Giuseppe Marvelli, Antonio D’Adamo e Giulio Possa, por meio da empresa Edilnord, do magnata italiano, Sílvio Berlusconi, como uma proposta alternativa aos modelos de desenvolvimento residencial do interior milanês daquela época. 

A Edilnord adquiriu 712.000 metros quadrados de terreno no município de Segrate,  devido à poluição sonora do tráfego aéreo do Aeroporto Internacional de Linate. A influência política de Berlusconi facilitou uma redução do tráfego aéreo e a aceitação pelas autoridades municipais de esquerda do Masterplan de Milano.

Entre as principais características da proposta, destacam-se a implementação de espaços verdes; a implantação de um sistema viário triplo (pedestre, ciclável e veicular), que permite a organização do tráfego urbano; a inserção de um eixo central, nomeado “Estrada da Espinha”, em que seria situado serviços essenciais; além de um planejamento que atenderia necessidades habitacionais e de serviços dentro do bairro. 

Este desenvolvimento foi concebido não só para fornecer alojamento para dez mil habitantes, mas também como um urbanismo completo equipado para fornecer educação, fitness, entretenimento, natureza idealizada e, sobretudo, vendas. Os apartamentos foram voltados para uma paisagem interior, com grandes árvores, colocadas para suprimir qualquer percepção de uma presença humana nas proximidades.

O distrito é composto por residências, cada qual, representada por um delegado distrital, que se reúnem ao administrador distrital em uma Assembléia chamada Super Condomínio, a fim de organizar as obras e serviços relativos às áreas comuns do distrito, como, centro empresarial, clube desportivo, hotel, centro religioso católico, centro cívico e complexos escolares.

Em todos os meios de comunicação, esse novo modelo residencial foi anunciado como “La Città dei Numeri Uno” (“A Cidade número um”). Atores foram contratados para representar os futuros habitantes dessa idealização, sendo eles, representando um setor de jovens ambiciosos executivos de classe média voltados para a família. Os apartamentos modelo foram construídos no meio da propriedade ainda não urbanizada onde Milano Duo seria construído. Eles foram decorados, fotografados e publicados nos meios de comunicação internacionais da moda, incluindo a revista Vogue. Sendo assim, o uso da mídia impressa, permitiu criar um deslocamento da vida diária em uma progressão do real para o aspiracional. Nos folhetos de vendas, Berlusconi incentivou os compradores a “escapar do caos metropolitano – do trânsito, crime, imigrantes e trabalhadores”. Da cidade em si.” 

Milano Due anunciou a utopia de um pequeno mundo separado da cidade. Uma cidadela para os ricos, com todas as comodidades, segura e tranquila. Arquiteturas quase idênticas, cores uniformes, estradas e pontes repetidas, fontes e lagos. Cada edifício tem o seu próprio nome poético e botânico (“os cedros”), num ambiente que tanto lembra um resort turístico de luxo. 

É fato que com a televisão, os celulares e as mídias sociais, há uma propagação de imagens de uma vida perfeita, do desejável, do melhor a ser obtido/conquistado. Portanto, o Milano Due nos mostra como as janelas se tornam canais que produzem imagens do estilo de vida ideal. Deixando de ser algo contemplativo para determinar relações com pessoas e objetos. 

Essa relação fica mais clara analisando os condomínios fechados no geral. No mundo contemporâneo, é possível afirmar que a nova utopia é: a volta para a natureza, retomar a nossa relação primordial com a paisagem. Essa realidade é encontrada mais facilmente nesses condomínios. A natureza muda ao redor deles, se torna presente. Refletindo a formação dos condomínios fechados, a violência urbana e a onipresença do medo podem ser apontadas como os principais elementos formadores dessa tipologia de moradia. Essa vivência protegida, cercada, se torna um símbolo de status e ostentação, como visto no Milano Due. Neste caso, considerando que apenas uma porcentagem pequena da população é capaz de adquirir esse estilo de vida, ainda que pessoas de todas as classes assistam essa realidade pelas janelas (celulares), tornando-a mais desejável. 

Essas ideias já vem de décadas atrás, pensadas por planejadores que idealizavam cidades utópicas onde haveria uma harmonia entre a arquitetura, as pessoas e suas necessidades. Como exemplo, temos Howard, um pré-urbanista, que propôs um modelo de cidade autônoma, que combinasse os benefícios da cidade e do campo e evitasse as desvantagens de ambos. Conhecido pela publicação “Garden Cities of Tomorrow”, ou Cidades Jardins do Amanhã, Howard idealizava a utopia de uma cidade planejada, em que pessoas viveriam harmonicamente juntas à natureza e cercadas por um permanente cinturão de terras destinadas à agricultura. Designada para ser “The Perfect Town”, ou Cidade Perfeita, foi definida como “uma cidade projetada para uma vida saudável e indústria de um tamanho que torna possível uma medida completa da vida social, mas não maior, cercada por um cinturão rural; a totalidade da terra sendo de propriedade pública ou mantida em custódia para a comunidade”. Duas cidades inglesas foram construídas como cidades-jardim, Letchworth e Welwyn. Welwyn, foi fundada em 1920, uma cidade disposta ao longo de avenidas arborizadas, possui sua própria legislação de proteção ambiental, a espinha dorsal da cidade é o Parkway, um shopping central com quase um quilômetro de extensão. São modelos praticamente insustentáveis que se mostram ineficientes em um cenário de constante crescimento e adensamento populacional que as grandes cidades vivem.

A partir disso, podemos refletir sobre como a arquitetura sempre foi um elemento de defesa. No entanto, sua motivação era coletiva. As cidades muradas vinham como forma de impedir invasões e ataques de povos externos aos daquela cultura, como descrito na Política de Aristóteles. Atualmente: “As cidades já não erguem muros em seus limites exteriores. Os muros são construídos dentro dela.”, como de acordo com o autor Antonio Riserio, através do portal Vitruvius. Ou seja, os muros separam os cidadãos da cidade de si mesmos, criando uma cidade inteiramente murada e flagelada. Essa arquitetura se tornou extremamente comum nos centros urbanos. A mesma altera completamente a forma que as pessoas se relacionam. Tanto os condomínios horizontais, como os verticais (apesar de esses se inserirem com muito mais aproximação da vida da cidade), criam uma exclusão física, quebrando os princípios de acessibilidade e livre circulação. As pessoas de fora são todas vistas como possíveis ameaças, e as de dentro não se comunicam e não entram em acordo, pois não vivem a mentalidade de coletividade. Dentro desse mundo protegido, existem equipes próprias de limpeza, de manutenção, de jardinagem, e mais, onde a associação do condomínio assume a função do estado de fazer essa administração, tentando suprir todas as necessidades que os moradores desses conjuntos abriram mão em prol da segurança e das promessas de um estilo de vida melhor e mais proximidade da natureza. Dessa forma, há um impedindo do acesso de estranhos não pré avaliados de entrar nesse espaço, sendo funcionários ou visitantes.

A arquitetura caminha para se adequar a um mundo extremamente individualista que baseia suas relações interpessoais nos meios fornecidos pelos avanços tecnológicos. Onde o problema talvez não seja a inserção do novo, mas o desaparecimento do velho. Dos velhos costumes, das velhas interações entre as pessoas, com os ambientes, com as ruas. Fora falta de privacidade no compartilhamento constante de informações. Assim, é possível estabelecer um paralelo com o conto “The Machine Stops”, de E.M. Forster. Nesse mundo distópico, as pessoas vivem embaixo da terra em uma rede de túneis. Cada pessoa vive em um compartimento específico e individual, projetados como uma colmeia. Um paralelo de como a arquitetura pode tornar as relações fisicamente mais difíceis. Todas suas necessidades são atendidas pela Máquina. As relações são intermediadas totalmente pela Máquina e não sobra espaço para privacidade. Um dos personagens, Kuno, tenta voltar para a superfície, para a natureza, mas é impedido pelos sistemas de defesa da Máquina. O mesmo sente que as pessoas não vivem como humanos, que falta o contato, que as pessoas aprenderam a precisar da Máquina. Um paralelo com a forma como a tecnologia tem sido a base que norteia a sociedade. E, assim como no conto, ninguém questiona isso.

Tendo tudo isso em mente, é possível, também, fazer uma reflexão e comparação dessa realidade com o filme animado WALL-E, dos Studios Disney Pixar, lançado em 2008, e que acaba por abordar diversos desses aspectos. O filme conta a história de um robô chamado WALL-E deixado na Terra, que se tornou um enorme lixão, onde o mesmo, junto com outros robôs, seriam responsáveis por limpar o planeta e torná-lo habitável de novo. Isso, enquanto uma parcela bem pequena e exclusiva da população terrestre viveria em uma nave esperando o dia em que poderiam voltar à natureza, e vivem por 700 anos na promessa de voltar para uma Terra recuperada, para um estilo de vida melhor. Assim, trazendo essa ideia de que um mundo ideal e desejável é o mundo que se volta para a natureza. 

Já nessa nave utópica, as pessoas vivem com todas as suas necessidades atendidas por robôs, o que faz com que as mesmas não tenham nenhum tipo de esforço, a ponto de não conseguirem mais se mover sozinhos por um quadro de obesidade e sedentarismo extremo. Nessa estação espacial protegida, controlada, fechada, exclusiva, os humanos gastam todo seu tempo comendo, assistindo, jogando e tendo interações virtuais uns com os outros, mesmo estando cara a cara. Ficando visível como as janelas, as imagens projetadas, passam a ser suficientes para a humanidade e substituem as interações interpessoais. Isso, a ponto de estarem completamente alienados ao mundo em sua volta. Podendo ser comparado às pessoas que vivem nesses condomínios fechados e não tem quase nenhuma relação com indivíduos fora da bolha. A única interação com pessoas de fora, são com as que trabalham para os mesmos nesse espaço fechado.

Por fim, é possível perceber como essa temática está presente na cultura atual. Analisando trechos da música ‘The Garden da cantora Flower Face’, lançada em 2020, é possível complementar essa reflexão.

O refrão começa:

“They say they’re building us a garden”, ou “Eles dizem que estão construindo um jardim para nós.”, vemos a ideia da promessa da natureza, da segurança, do controle, da qualidade melhor de vida.

A música continua: “Well, don’t you know they lie, dear? There is no better place to find here. They packed up their things and left you. And I don’t think I can protect you.”, ou “Você não sabe que eles mentem? Não há um lugar melhor para se encontrar. Eles pegaram suas coisas e te deixaram. E eu não acho que consigo te proteger.”, onde fica evidente a preocupação dessa promessa ser tão exclusiva pensando na questão aquisitiva das demais classes sociais.

Portanto, quem puder adquirir monetariamente esse estilo de vida, realmente consegue um lugar melhor. Mas para os demais, fora dessa pequena parcela, sobra uma cidade de poluição, inseguranças e desastres naturais.

Maria Vitória Zaguini, Mariana Cantú e Sabrina Brasil

O CINEMA NOVO COMO TRADUÇÃO DA INTERAÇÃO DO HOMEM COM O PLANO E A SENSORIALIDADE DO ESPAÇO ARQUITETÔNICO

A dualidade entre tal relação no contexto das cidades e das favelas, análise sob a ótica do curta-metragem 5x Favela  

Em 1962, fruto de um projeto do Centro Popular de Cultura (CPC), produziu-se uma coleção de cinco curta-metragens, que se propõe a discutir os problemas sociais das periferias brasileiras na década de 1960, momento em que decorre o processo de favelização no país. Visando informar a população marginalizada a respeito da sua condição e, como consequência, incitar a sua emancipação, os curtas dessa coletânea possuem um discurso de conscientização, que transmitem a mensagem para o telespectador da urgente necessidade de uma mobilização social, em prol de uma melhora na condição de vida da população. O presente ensaio, baseou-se em um curta específico, Couro de Gato – dirigido por Joaquim Pedro, para destrinchar a relação estabelecida entre o morador da favela e a sua comunidade.

A priori, cabe discorrer brevemente acerca do processo de favelização no Brasil. Afinal, cidadãos habitando casas não planejadas advém de uma herança provocada pelo longo período escravagista no Brasil, no qual ex-escravos, libertos ao acaso no final do século XIX, encontraram-se à margem da sociedade e  desamparados do mínimo de direitos quanto a moradia e humanidade, obrigando-os a se locomover para as periferias e zonas distantes das cidades. 

Assim, entende-se que o princípio das comunidades, atualmente tidas como favelas, está relacionado com a falta de um planejamento urbano inclusivo e vernacular uma vez que expurgou ex-escravos e todos aqueles que não se adequaram à idealização da reforma urbana industrial. De modo geral, percebe-se como a arquitetura Ocidential moderna aplicada nas cidades brasileiras não foi capaz de ancorar o povo em um novo espaço dentro do perímetro urbano, renegando sua identidade. Como sustenta Pallasmaa, a predileção pelos olhos nunca foi tão evidente na arquitetura, o que culmina pela opção de espaços com persuasão instantânea, em detrimento de uma experiência plástica ou espacial (PALLASMAA, 2011, p.29). 

Contudo, o processo de expansão da chamada favelização, transcorrido na metade do século XX, é acarretado por uma desordem de planejamento, que provém de uma industrialização tardia do país. A chegada de múltiplas indústrias em cidades brasileiras concatena-se com a utopia de uma vida regrada pelo trabalho nos centros urbanos, consequentemente, a arquitetura esteve à serviço da funcionalidade requerida pelo sistema capitalista. Nesse processo, impuseram-se estruturas piramidais calculadas pelas lentes de uma lógica uniformizadora, estagnada e formal.

A riqueza desses versos é consonante a proposta apresentada pelo Cinema Novo, junto a toda essa produção do CPC e em especial o filme em análise do Joaquim Pedro, de priorizar uma discussão acerca da vida cotidiano daqueles que são tratados como marginalizados, ou seja, tratados como símbolo do estado de subdesenvolvimento do país. 

Como forma de descrever essa morfologia traçada fora do perímetro urbano, em que uma expansão espontânea toma conta do desenho orgânico e evolutivo, usa-se como exemplo ilustrativo a música “Favela”, escrita por Jorge Pessanha, seus versos narram o processo de formação de uma Favela, vide: 


“Numa vasta extensão/ Onde não há plantação/ Nem ninguém morando lá/ Cada pobre que passa por ali/ Só pensa em construir seu lar/ E quando o primeiro começa/ Os outros depressa procuram marcar /Seu pedacinho de terra pra morar/ E assim a região sofre modificação/ Fica sendo chamada de a nova aquarela/ E é aí que o lugar/ Então passa a se chamar favela”. (PESSANHA, Jorge (1973)).

Entende-se que a sequela de uma sociedade que expande seu território de forma desordeira é manifestada por um traçado irregular, que acarreta em um estado de vulnerabilidade e constantes riscos. Com a ausência do Estado Nacional no processo de construção das favelas, tem-se um empecilho para uma urbanização abrangente e segura. Por outro lado, nessa ausência a construção da comunidade se deu de forma espontânea e orgânica, priorizando a identidade plural do povo brasileiro, quando na cidade a tradição arquitetônica foi importada do determinismo europeu. 

Essa leitura arquitetônica foi delineada em função do desenvolvimento capitalista e da funcionalidade urbana, dependendo de um planejamento e de uma sensibilidade característica do Ocidente que, logicamente, não se aplica a todos os cenários urbanos mundiais. Dito isso, percebe-se como a interferência arquitetônica europeia tomada como padrão ao longo do século XIX é oposta ao crescimento espontâneo e exponencial do Brasil na década de 60, que provocou a construção de cidades irracionais periféricas sem a seriedade, padronização ou a organização nos moldes ocidentais. 

Tendo isso como base, 5x Favela carrega consigo um mapeamento histórico da década de 60, capaz de explicitar todo esse panorama arquitetônico exposto. O enaltecimento da luta coletiva também contribuiu para a construção de uma autoimagem por meio do combate à ignorância, à incapacidade popular em compreender sua própria posição submissa, afinal, para os teóricos do Cinema Novo, a arte só é política quando comunica.

Enquanto um elemento primordial para constituição identitária brasileira, o nomeado “labirinto” é tema central dos filmes da primeira fase do Cinema Novo à medida que a intenção é estimular o telespectador alienado a compreender a condição sociológica dessa realidade distante do tecido urbano. Filmes como esses foram os primeiros feitos em prol da desconstrução da cegueira cultural presente no Brasil na época, pois assim era possível superar o abismo identitário para consolidar a identidade de uma nação por meio de atividades artísticas didáticas. 

Ao analisar a morfologia de uma favela, é nítido um senso de integração que não se propicia na cidade, isso decorre pela proximidade das casas, pela ausência de muros e por haver uma densidade demográfica maior do que prédios, por exemplo. Logo, o senso coletivo expresso em uma comunidade, permite mobilizações incondizentes na realidade urbana central, isso se justifica, verbi gratia, na sensação de pertencimento comunal é ilustrada por uma frase de uma personagem do episódio Zé da Cachorra, também de Cinco vezes Favela, que deseja desapropriar casas irregularmente, mas que diz para políticos, que:

“é preciso fazer com cuidado, ou senão a favela se levanta toda”.


Induz-se, somado a isso, que há em uma comunidade uma evidente arquitetura que “intensifica a vida”, como diria Richard Rorty em Philosophy and the Mirror of Nature. Na qual, estimula-se os sentidos simultaneamente, fundindo nossa imagem como indivíduos e nossas experiências de mundo (PALLASMAA, 2011, p.11), ou seja, o “favelado” de a Pedreira de São Diogo enxerga nessa destruição, o fim não apenas de sua casa, mas também do seu sentimento como parte do mundo. Afinal, como propõe Pallasmaa, a arquitetura significativa faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados.

Por serem consideradas elementos que enfeiam a cidade, favelas são constantemente alvos de desapropriação; tal pretexto que pauta a expurgação de “favelados” de suas casas, desrespeita a noção de que por trás de tal comunidade, há um sentimento de pertencimento, criado, entre outros motivos, pela afetiva arquitetura que propicia o convívio comunitário. Todavia, vale ressaltar que o propósito aqui não é defender que a qualidade de vida em tais espaços é excepcional ou tampouco romantizar a precariedade, pelo contrário, busca-se aprender com a arquitetura de não arquitetos. 

Nesse sentido, inclusive, floresce o conceito de Regionalismo Crítico, pautado na interpretação de Kenneth Frampton, que sustenta a necessidade de uma arquitetura reconectada ao contexto e ao lugar. As ideias de Frampton relacionam-se a uma arquitetura sensível à tectônica, à materialidade e às particularidades de um local, valorizando a riqueza por trás de uma comunidade. 

No livro “Estética da ginga”, escrito por Paola Berenstein Jacques, há o mapeamento da sensorialidade das favelas com base na experiência do artista Hélio Oiticica, durante a década de 60, quando ele viveu na favela da Mangueira. Com sua completa imersão nessa realidade, o pintor concretista desenvolveu uma incomum perspectiva acerca da subjetividade de ser e estar na favela, e é com base nela que o livro desencadeia uma reflexão teórica aprofundada acerca do que se pode aprender com as comunidades. 

Segundo a autora, a interpretação das favelas exige, primeiramente, uma releitura acerca da sua validade do ponto de vista tradicional, afinal, mesmo estas não tendo sido construídas por não-arquitetos, elas são uma arquitetura. Nesse caso, deve-se partir do pressuposto que elas possuem uma estética própria e, nas palavras da autora:

“A questão não é simplesmente social e política: passa também por uma dimensão cultural e estética.”

Assim, compreender a favela na sua essência significa incorporar um universo espaço-temporal divergente daquele cultivado nas organizações modernas: a vivência, a cadência induzida pela tridimensionalidade irregular da favela garante não só uma noção da vivência de corporalidade, mas também de temporalidade específica.

Essa individualidade ímpar é adjacente, historicamente, da expurgação urbana pelos pobres sofrida após a escravidão quando, em condições miseráveis, os únicos materiais disponíveis para a construção dos barracos eram aqueles recolhidos e agrupados antes destinados ao descarte. Sem qualquer projeto preliminar, as favelas foram incorporando uma identidade visual única que além de heterogênea, era também dinâmica.

Favela do Leblon, 1944, Fundo Victor Tavares de Moura – A construção de barracos com a utilização de materiais de descarte.

A partir desse perfil traçado, percebe-se a divergência da favela em comparação com o cenário urbano, tendo em vista que ela não atinge um estado estático e cartesiano, ela é dependente do acaso. Quando vive-se em uma sociedade onde a imagem tradicional da arquitetura sempre esteve ligada à ideia do sólido e do fixo, a organização labiríntica e fragmentária, como proposta pela autora, sugere uma estranheza, uma incompreensão daqueles não inseridos nesse cenário. 

A ausência de um plano proporciona uma peculiaridade que transcende o espaço, manifestando-se em uma temporalidade não condizente com a realidade urbana. Assim, a mudança interfere no próprio ritmo do caminhar, que se modifica, graças à estrutura de vielas e ruas irregulares, causando justamente uma vivência com gingado. A favela, nesse sentido, é uma aproximação com a filosofia de construção ligada a preceitos naturais, onde prioriza-se a estrutura tortuosa, não fidedigna com os moldes arquitetônicos, que roga por ângulos retos e cidades reticuladas. 

A desordem, causada pelo crescimento espontâneo de uma comunidade, ocasiona no que Paola Berenstein nomeia de “Labirinto”,  um local que estimula a sensorialidade, antes de afetar a razão. Antes de ser um espaço, a favela é um caminho e seu percurso é o próprio labirinto.

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Seguindo os preceitos de tal filosofia, Gilles Deleuze defende que o labirinto é a manifestação daquilo que leva o sujeito a ser, gerando um senso de reciprocidade entre tais elementos que propicia a construção de uma identidade, na qual, o ser é visto como parte intrínseca do próprio labirinto. Estimulando a corporalidade perante a imposição da materialidade do espaço, o universo criativo de quem vive nesse ambiente é diretamente ampliado, o que justifica toda a bagagem cultural derivada das favelas.

Em última instância, entende-se que a arquitetura é capaz de conciliar noções de cunho prático e subjetivo, ou seja, por trás de uma residência, transcende-se a noção de mero habitar, para firmar-se a imagem do habitante como parte do espaço. Assim, mesmo quando tal universo carece de condições básicas ou do zelo governamental quanto as clemência elencadas, há uma comunhão populacional, que se sobressai às questões de materialidade, e acarreta na demanda por direitos, que são síntese do Cinema Novo.  

  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
  • Richard Rorty, Philosophy and the Mirror of Nature, Princeton University Press
  • (New Jersey), 1979, p 239. 
  • JACQUES, PAOLA BERENSTEIN. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica/ Paola Berenstein Jacques. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003 (3a edição). 
  • ROCHA, Glauber. Uma Estética da Fome. In: Revista Civilização Brasileira, n.3, julho, 1965.
  • Pallasmaa, Juhani.Os olhos da pele : a arquitetura e os sentidos / Juhani Pallasmaa; tradução técnica: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre :Bookman, 2011.
  • FILME: 
  • Pedreira de São Diogo, dirigido por Leon Hirszman, 1962 
  • MÚSICAS: 
  • Favela – Jorge Pessanha

Dubai e a Emissão de Carbono

Este artigo tem como objetivo se aprofundar no projeto da cidade planejada de Dubai nos Emirados Árabes. Será analisada a adequação aos padrões de uma arquitetura contemporânea sustentável. As metrópoles ocupam uma pequena área da superfície terrestre, mas abrigam mais da metade da população mundial e são responsáveis por grande parte das emissões de carbono e consumo de energia global. Por isso, é importante que as cidades aprendam umas com as outras sobre as medidas verdes e planos climáticos que funcionam, a fim de obter idéias para ações climáticas locais mais eficientes.

Dubai é um dos Emirados que compõem o país dos Emirados Árabes Unidos, no Oriente Médio. A capital de Dubai é a cidade de mesmo nome que concentra 90% dos 3,41 milhões de pessoas que vivem no país. O País apresenta um clima desértico, com temperaturas altas e elevada amplitude térmica. Na capital, entretanto, o calor acontece em conjunto com a umidade do ar elevada.

Dubai foi um importante entreposto comercial no passado e se desenvolveu a partir da comercialização de pérolas. A construção da cidade teve impactos significativos no meio ambiente. O ritmo acelerado de urbanização e o desenvolvimento da cidade, levou à destruição da natureza, acarretando na perda da biodiversidade e poluição do ar e da água. Essa perda de biodiversidade pode ter consequências no ecossistema local.

A construção da cidade de Dubai em sim, não resultou diretamente na redução das emissões de CO2. Na verdade, a indústria da construção é conhecida por contribuir para as emissões de gases de efeito estufa, devido aos processos intensivos de energia envolvidos. No entanto. Dubai tem adotado medidas para diminuir o impacto ambiental de seu setor de construção e reduzir as emissões de Co2.

A dependência de veículos automotores dentro da cidade, contribuiu para altos níveis de emissões de carbono e poluição do ar, que geram impactos negativos na saúde humana e no meio ambiente.

Entre algumas atitudes de cunho sustentáve que a cidade tem adotado, encontra-se o eco-bairro denominado “The Sustainable City”, construído com sustentabilidade ambiental, econômica e social em mente. O projeto foi concluído em 2005 e é composto por 500 villas e 89 apartamentos, com um sistema de resíduos que garante que 100% dos resíduos e da água sejam reciclados. A área é uma zona livre de carros, onde caminhar e andar de bicicleta são incentivados. Possui também, 11 estufas no parque central e a construção do Sanad Village, especialmente projetada para pessoas autistas e suas famílias.

As formas pelas quais a construção em Dubai podem impactar a qualidade do ar são a partir de poeira e material particulado. Os canteiros de obras frequentemente geram poeira e material particulado, especialmente durante atividades de escavação, movimentação de terra e demolição. Essas partículas podem ser liberadas no ar e contribuir para a poluição do ar. A poeira pode conter vários potentes, que podem ter efeitos negativos na saúde quando inalados.

Os canteiros de obras requerem o uso de máquinas pesadas, equipamentos e veículos, como escavadeiras, tratores, guindastes e caminhões. Essas máquinas geralmente funcionam a base de combustíveis fósseis, como diesel, que podem liberar poluentes. Essas emissões podem contribuir para a poluição do ar e degradar sua qualidade.

Materiais de construção podem evaporar, durante as atividades de construção e contribuir para a formação de ozônio de baixo nível e outros poluentes.

Além do mais, grandes projetos de construção, podem levar a um aumento de congestionamento nas áreas circundantes. O congestionamento resulta em mais emissões veiculares. Essas emissões podem piorar a qualidade do ar.

As formas adotadas para diminuir a poluição do ar associada às atividade de construção foram medidas de controle a poeira. Os cantores de obras devem implementar medidas de controle a poeira , como cobertura de estoques, umedecimento de superfícies e uso de barreiras e quebra-ventos, para minimizar suas emissões.

Dubai estabelecei padrões de de emissão para equipamentos de construção e veículos para regular e controlar suas emissões. Esses padrões ajudam a garantir que máquinas e veículos de construção atendam requisitos específicos de controle de poluição.

O uso de práticas de construção sustentáveis e verdes, que incluem o uso de materiais de construção com baixas emissões, sistema de ventilação eficientes e práticas adequadas de gerenciamento de resíduos. Essas práticas visam reduzir o impacto da construção e minimizar a poluição do ar.

As medidas implementadas para reduzir as emissões de Co2 incluem rigorosos padrões de construção sustentável para promover eficiência energética e sustentabilidade. As regulamentações e especificações de construção verde de Dubai, fornecem diretrizes para a construção de edifícios ecologicamente corretos, incluindo requisitos de design eficiente em energia, conservação de água e gerenciamento de resíduos.

Incentiva-se também, o uso de materiais ecologicamente corretos, como materiais reciclados e obtidos localmente.

Utilizam-se de de certificados de construção sustentável, como o LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental) e o sistema de classificação Pearl do Estidama, incentivando desenvolvedores a incorporar práticas sustentáveis em seus projetos.

Muitos novos projetos de construção, incorporam sistemas de energia renovável, como painéis solares, para gerar energia limpa no local. Essas instalações ajudam a reduzir a dependência de eletricidade baseada em combustíveis fósseis e diminuem as emissões de Co2, associadas as operações dos edifícios.

Os resíduos de construção e demolição, são cuidadosamente gerenciados e reciclados sempre que possível, a fim de minimizar a quantidade de resíduos enviados para aterros. Isso reduz a emissão de gases de efeito estufa que seriam liberados durante a decomposição de resíduos orgânicos nos aterros.

As autoridades monitoram as atividades de construção para garantir a conformidade com as regulamentações e padrões ambientais. Isso ajuda a minimizar o impacto negativo da construção no meio ambiente e reduzir as emissões de Co2, associadas às práticas de construção.

A energia solar tem sido um grande investimento. A cidade abriga o Parque Solar Mohammed bin Rashid Al Maktoum, um dos maiores parques solares do mundo. O objetivo é gerar 5.000 megawatts de energia limpa até 2030, reduzindo as emissões de Co2 em milares de toneladas.

Programas e iniciativas de eficiência energética, estão sendo implementados, promovendo prédios, eletrodomésticos e sistemas de transporte energeticamente eficientes.

Implementação de infra-estrutura de transporte público, incluindo metrô, sistema de bonde e ônibus, incentivando o uso de transporte público, visando reduzir o número de carros nas ruas e, consequentemente, diminuindo as emissões de Co2.

O planejamento e desenvolvimento urbano como a “The Sustainable City”, com o foco de criar uma comunidade sustentável e neutra em carbono, com uso eficiente de energia , gestão de resíduos e espaços verdes.

Novas tecnologias estão sendo exploradas, assim como o armazenamento de carbono, para capturar as emissões de Co2, provenientes de fontes industriais e armazenando-as no subsolo.

Usinas de energia a partir de resíduos e iniciativas para promover a redução e e reciclagem dos mesmos.

Entre outros, conscientização e educação, aumentando a conscientização sobre mudanças climáticas e a importância da redução de emissões de Co2.

Um estudo de caso, que podemos levar em consideração, como um exemplo a ser seguido é a usina CopenHill, na Dinamarca.

A usina de geração de energia a partir de resíduos chamada CopenHill, foi inaugurada em Copenhague, após quase uma década em construção. Projetada pelo Bjarke Ingels Group, a usina é um marco arquitetônico contemporâneo. O projeto foi inicialmente concebido em 2002 e evoluiu para se tornar a maior iniciativa ambiental da Dinamarca. A CopenHill é uma forte expressão arquitetônica, que transforma a usina de geração de energia a partir de resíduos mais limpa do mundo em um centro de recreação urbano e um centro de educação ambiental. A fachada contínua é escalável, a cobertura é caminhável e as pistas são esquiáveis, incorporando a noção de sustentabilidade. A usina é capaz de converter toneladas de resíduos anualmente em energia limpa, fornecendo eletricidade e aquecimento urbano para milhares de residências.

É importante ressaltar que, embora medidas tenham sido implementadas em Dubai para minimizar o impacto ambiental da construção civil, o rápido crescimento e desenvolvimento da cidade, ainda resultam em uma pegada de carbono substancial. No entanto, ao adotar práticas de construção sustentável e promover edifícios eficientes em energia. Dubai tem como objetivo, diminuir o impactos de suas atividades e avançar em direção a um futuro mais sustentável.

A cidade continua enfrentando desafios na transição para uma economia de baixo carbono, mas suas iniciativas e investimentos em energia renovável e prática sustentáveis, são passos na direção certa.