Tudo é água: o grande e verdadeiro clichê

Renata Doro

Conceito inseparável da vida

‘Cada gota é um mundo à parte, cada gota é uma respiração’

Como é a atual relação das pessoas com as águas? Até que ponto a proximidade com as águas é considerado bom ou ruim? 

O ser humano é  feito quase 80% de um elemento que, em sua falta, morre. Mas com seu exagero ou má direcionamento,  também morre. 

Autores que foram base para este trabalho debatem muito as questões como simbolismo, função, características e composição molecular da água. A química também explica muitas questões que acabam sendo centrais para o entendimento comportamental da água.   

A água é formada por 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo de oxigênio.

É tida como solvente universal por conta da polaridade dela. Permitindo assim, que ela dissocie outras moléculas. 

Pode se juntar com muitas outras moléculas, porque ela tem essa característica. Essas, são as chamadas  moléculas Hidrofílicas, que possuem afinidade com a água, que interagem. Por essa razão elas possuem a capacidade de transportar substâncias. 

Já as moléculas que não possuem essa afinidade, são chamadas de Hidrofóbicas. 

Como as ceras, óleos e lipídeos no geral.

Algumas características químicas da água:

  • Solvente universal
  • Transporte de substâncias
  • Termorregulador
  • Adesão e Coesão

Por essas características, a água é tão importante e única.

A água, segundo a Gênesis 1, 

‘O começo
No princípio Deus criou os céus e a terra.
Era a terra sem forma e vazia; trevas co­briam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
(…) esse foi o primeiro dia.’

Pelos cristãos apostólicos romanos, Deus fez o mundo em 7 dias, sendo que no primeiro já havia água.

Segundo Mircea Eliade, quando discute sobre as interpretações do simbolismo aquático, ‘o dilúvio simboliza tanto a descida às profundezas marinhas como o batismo’

Não podemos esquecer que a água batiza, mas também é elemento que acabou com a sociedade, no dilúvio de Noé.

Em uma pesquisa rápida, foi pedido para algumas pessoas responderem o que é água:

Segue:

Entrevistado 1 : Ingrediente, complemento, matéria prima, bebida, sobrevivência.

Entrevistado 2: Vida do corpo

Entrevistado 3: Água é um gasto 

Entrevistado 4: inunda, afoga, mas sem ela não tem vida

Entrevistado 5: água é tudo

Mas, afinal, o que é a água? 

Século XXI, 2023, onde era para termos carros voadores dos Jetsons, mas não, precisamos discutir o que é água. 

Muitas pessoas possuem acesso à ela…Mas fica a reflexão: o quão positivo é este acesso?

Os rios que estão presentes nas cidades, muitos tampados ou canalizados, não exercem mais suas funções como tinham em sua natureza. 

As águas cantam, são fontes de músicas. 

Mas nas cidades, especificamente São Paulo, elas não possuem vozes. Elas quase não possuem vida…Mas estão lá resistindo. 

E quando chove e os rios enchem, entram nas residências próximas a ele, levando pessoas, casas inteiras, ou deixando as casas com cicatrizes, eles é que são culpados por estarem nos lugares errados. 

Quando temos um acúmulo das águas nas cidades, elas são tratadas como problema. Mas, quem estava naquele local antes? A água ou o ser humano? 

Em que momento o ser humano será questionado por essa invasão?

O ser humano ocupou as margens dos rios, e por muitos anos, essas águas eram fonte de alimento, transporte e lazer. Com a chegada da cidade e massificação da mesma, os rios começam a ser canalizados, tamponados e afastados do ser humano, da sua essência, que é a água. E começa-se então a viver uma questão completamente invertida daquela que o ser humano foi feito para. 

Esse rompimento e desligamento com a água/natureza deixa o ser humano cada vez mais doente, e assim, cria-se uma população doente e dependente daquilo que se afasta à sua essência. 

‘Um oceanógrafo me ensinou que a atividade de pensar se parece com o oceano, que as leis dos pensamentos são as mesmas da água que sempre estão prontos para moldar-se a tudo’

No documentário Botão de Pérola, essa frase expressa uma realidade: a água está sempre pronta para moldar-se a tudo. Ela corre conforme o molde que tem. 

Ela ocupa os lugares abertos se ela não tem o dela. 

Neste mesmo documentário, é retratada a extinção de povos que eram da Patagônia. Andavam por toda a extensão de todas as ilhas, mesmo que o tempo estivesse muito frio. 

Essa é uma das questões abordadas, porque essas civilizações não construíram cidades, e nenhum lugar para ficarem. Eram nômades e tinham uma relação de família com a água. A intimidade dos humanos com a água era muito grande, neste exemplo, tudo vinha da água.

Comparando essa situação com o que vivemos na contemporaneidade,pode-se ver tudo o que foi perdido de vínculo. A relação homem x água hoje é completamente diferente da dos povos. A água hoje serve para beber, higiene, comida, entre outras tantas coisas, mas família, a água não é mais. Hoje é tratada como um ‘objeto’. Compramos água no mercado, pagamos o serviço de água, que enquanto este trabalho foi desenvolvido, estava em votação na Câmara Legislativa se o serviço de água seria privatizado ou não. 

A água é engarrafada, tratada, desviada do seu curso natural, tampada, e em muitos lugares, jogada fora à toa. 

O desejo de escrever um artigo sobre água vem de muito tempo.

Conheci o rio São Francisco inteiro. Como são suas atividades, como é a vida próxima a ele?

Com toda certeza, é um dos poucos rios que ainda tem vida. Muitas pessoas dependem dele para acesso à água, como única opção, por exemplo. 

Comunidades o usam para lavar suas roupas, as ‘ lavadeiras do Rio São Francisco’ ainda existem. Mas a vida nas proximidades já está acabando.
Depois de tantos acidentes ambientais nas proximidades, períodos muito grandes de seca, em outro momento, períodos muito grandes de cheia, o rio está modificando muito. Ainda faz parte da família de muitas pessoas, mas está começando a ficar afastado por conta de tantas mudanças e inconstâncias. 

Por fim, a cidade de São Paulo está vivendo um caos urbano com as chuvas. Chuvas muito fortes destelharam casas, causaram morte em pessoas, e destruição de muitas regiões da cidade. Por outro lado, fica a pergunta: cadê os rios de São Paulo? Tantos que estão enterrados…Não tem como a cidade dar vazão às águas…

Elas estão aqui há muito mais tempo, sem ela não vivemos, e enquanto não tiver um respeito do homem para com as águas que temos, esse caos vai continuar. 

Mas o mais impressionante é que esse caos, a maior parte acontece nas regiões com condições financeiras mais baixas e população mais vulnerável. E a culpa vai sempre para a água;  nunca vai  para o sistema perverso que deixa a população de baixa renda passar por situações que poderiam ser evitadas se não tivéssemos negado a natureza e nossos rios. 

Vídeo mostra casa desabando em córrego na zona leste:

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/01/30/video-mostra-casa-desabando-sobre-corrego-na-zona-leste-de-sp-bairros-ficaram-alagados-durante-tempestade.ghtml

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